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Escrito porEstação i on 19/09/2017
Se amar é estar doente, então estamos todos.
Nesta última segunda-feira, o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho concedeu uma liminar que permite que os psicólogos ofereçam terapias de reversão sexual. A famigerada “cura gay”, que é proibida e condenável pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) desde 1999, ganhou espaço nesse cenário caótico em que se encontra o Brasil. E sim, em meio a todas essas crises éticas e sociais, ainda precisamos falar sobre a homofobia.
“Ué, o assunto não era a ‘cura gay’?”. Sim, mas não podemos falar sobre a “cura gay” sem falar que ela é o resultado de uma sociedade construída com base em preconceitos. O conceito de reversão sexual é fruto da homofobia visceral. Ponto final.
Essas pessoas, que são de carne e osso como qualquer outra, têm medo de sair na rua e levarem uma “lampadada” no rosto (Luís Alberto Betonio, de 23 anos). Ou de ser levado para um terreno baldio e ser agredido por 12 “homens” (Dandara dos Santos, 42 anos).
Pesquisas apontam que o Brasil ainda é o país que mais mata homossexuais no mundo, mesmo que a relação entre pessoas do mesmo sexo não seja criminalizada perante a lei. E, ainda assim, estamos na frente de países como Rússia e Coréia do Norte, onde há uma caça aos homossexuais.
Obviamente esse número é maior aqui, por conta da liberdade que o grupo LGBTQ+ conquistou aqui no país. Porém, infelizmente, progresso legislativo não infere exatamente em progresso SOCIAL. Existem muitos no Brasil que ainda têm uma mente retrógrada (vide Waldemar Cláudio de Carvalho, o Lex Luthor das gay).
Segundo Pedro Paulo Bicalho, diretor do CFP e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), “A permissão das terapias de reversão sexual representa uma violação dos direitos humanos, não tem embasamento científico algum e ainda pode provocar sequelas e agravos ao sofrimento psíquico do paciente”.
Bicalho tem toda a razão em sua observação, uma vez que há em torno de uma morte causada pela homofobia a cada 25 horas (Fonte: GGB). Já não bastasse todo o sofrimento que o homossexual sofre diariamente nas ruas, essa liminar permite que essa dor seja estendido para um lugar que, em tese, deveria representar um refúgio para os homossexuais: sua própria mente.
Essa liminar apareceu logo no mês da campanha da valorização da vida. Parece uma besteira falar nesse assunto agora, mas é importante lembrar que, segundo estudos da Universidade de Columbia, Estados Unidos, os homossexuais têm cinco vezes (CINCO VEZES!!!!) mais chances de cometer suicídio. E isso é resultado de uma pressão social fundamentada na homofobia.
Apesar de tudo isso, seguimos aos trancos e barrancos nessa estrada esburacada que é a luta contra pensamentos atrasados e congelados no espaço/tempo.
E seguimos falando sobre a homofobia, que mata.
E seguimos falando sobre as leis que não protegem a diversidade de forma eficiente.
E seguimos falando sobre séculos de opressão.
E por mais que tentem nos calar, continuamos lutando.
#TrateSeuPreconceito